domingo, 25 de janeiro de 2009

cavalos

Eles eram muitos cavalos, mas ninguém mais sabe seus nomes, sua pelagem, sua origem...

(CECÍLIA MEIRELES)



Somos todos cavalos que vivem em celeiros diferentes, de formas diferentes, mas a fundo, cavalos iguais.

Se estiver sentindo uma tristeza sem fim, uma tristeza chata, daquelas que acabam com todos os dias que foram perfeitos em um ano inteiro... Como amiga, digo-lhe que passará.

E, se estiver sentindo uma felicidade desigual, uma felicidade infinita, e caso esteja achando que jamais sentirá algo tão bom assim... Em verdade lhe digo que passará também.

Todos nos deixamos consumir pelos páthos, ou seja, os sentimentos avassaladores (a exemplo disso: as paixões, as raivas, rancores, saudades, os ódios e os amores doentios profundos), porém o correto seria conseguirmos nos manter no “caminho do meio”, tentando nos conter em situações muito boas ou muito ruins, pois só assim conseguiremos uma vida plena, só assim conseguiremos aproveitar ao máximo todas as ocorrências mundanas, que são, portanto, passageiras.



Até quando julgareis injustamente, sustentando a causa dos ímpios? SALMO 82

sábado, 17 de janeiro de 2009

Desapego

Você era sol e eu queria luz. Era chuva e eu precisava de água. Éramos começo, novidade. O primeiro doce do pacote, a primeira mordida de uma boca com fome. E eu era faminta. Saboreava a vida como um tempero exótico. Eu era a cega que voltava a ver, e você era a primeira tonalidade. Enfim, éramos um doce. Um doce problema. Porque o problema de toda novidade é que o novo tem validade.

Curta. Não importa o quanto o sentimento seja legítimo: se é novo, uma hora fica velho. Com o tempo, cria artrites, os ossos enfraquecem, e como nas pessoas, o coração falha. Às vezes entope, às vezes corre. Mas tem vezes que pára. Hoje eu quis entender porque é que o meu desacelerou. Se era antes capaz de parar o tempo, decretar a paz e jurar estabilidade, hoje negou a si mesmo. Não porque era superficial, nem porque não aguentou o tranco. Sinceramente, eu nem sei bem o por quê. Só sei que hoje eu quis um pouco mais de mim e um pouco menos de você.

Não sei se chamo isso de fracasso, vulnerabilidade ou se é só uma lição pra me fazer te dar valor quando tudo não parecer mais tão seguro. Sou vulnerável às mudanças do tempo e não tenho imunidade contra o desinteresse. Ninguém tem. Ninguém que teve um brinquedo, uma música favorita ou um sentimento extraordinário saberia eternizar o impulso do início. A insatisfação, muitas vezes, é o que faz as coisas andarem. E desta vez, ela me faz andar para um lado contrário ao teu.

Por mais que a contraditória aqui seja eu. Ou que as palavras tão firmes de antes hoje pareçam poeira. Se até a dona natureza, que é sábia, tem mudanças de estações, eu - que sei tão pouco de tudo - acho que também posso ter. E posso criar meu próprio tsunami se bem entender. Correndo o risco sim, de parecer volúvel. Mas nunca me entregando à mediocridade que é viver com um coração resignado. Ou de oferecer amor em um tom apagado. Se é vida o que você me propõe, considere a missão cumprida. Quanto mais inexplicável tudo parece, mais eu me sinto viva.

(autor desconhecido, mas podia ser meu)
Quando eu vou parar e olhar pra mim
Ficar de fora
E olhar por dentro
Se eu não consigo
Organizar minhas idéias
Se eu não posso
Se eu esqueço de mim?
 
E eu pensei que fosse forte
Mas eu não sou
 
Quando eu vou parar pra ser feliz
Que hora
Se não dá tempo
Se eu não me encontro
Nos lugares onde eu ando
Nem me conheço
Viro o avesso de mim?



Dizem que se uma pessoa pensa, é porque existe.
Quando estamos tristes é que pensamos. Pensar no sentido de pensar em algo útil, algo que possa sair num papel ou algo que possa ajudar alguém em algo.
Quando estamos felizes não existimos, portanto.

- To existindo.



E eu falei “por que a gente não se esquece?”.. Devia ser assim, mas não acontece...

Me ensinou a rezar uma outra prece.. “Ah, quem dera se o dinheiro desse..”

Prefiro sempre, sempre correr o risco..

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Está a máscara da noite sobre o meu rosto; a não ser ela, verias minhas faces tintas do rubor virginal. SHAKESPEARE, Romeu e Julieta, Ato II.


Ainda pior do que a certeza de um “não” e do que a probabilidade incerta de um “talvez” é a desilusão do “quase”. O “quase” me irrita muito, me deixa triste, me deixa chateada; me mostra tudo aquilo que poderia ter sido, mas não foi.

Alguém que quase ganhou, perdeu. Se quase ficou, foi embora. Quase passou de ano, repetiu. Se quase morreu, está vivo!

Mas há uma grande diferença das sentenças a cima para estas a seguir:

Se quase amou, se enganou.

Se estiver quase vivo, está morto.

Prefiro dizer que tudo o que há de ser, sempre acabará sendo. E, jamais, portanto, usar aquele maldito “quase”.


A minha filosofia toda resume-se em opor a paciência às mil e uma contrariedades de que a vida está inçada. (sic) HOFFMANN, O Reflexo Perdido.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Comigo, respondeu Sancho, meu primeiro movimento é logo tal comichão de falar que não posso deixar de desembuchar o que me vem à boca.

CERVANTES, D. Quixote.

E, o que faz uma pessoa de atitude e personalidade constantes mudar de idéia abruptamente?

“O homem comum leva uma vida de desespero silencioso”.

Não me lembro onde ouvi isso, mas talvez meu desespero não consiga mais ficar em silêncio. Talvez esteja sendo tomada por uma insatisfação infundada, tendo em vista que possuo o bastante.


Eu me apaixonei por ela

Meu grande amor... Me desculpe por querer te deixar...

Mas eu tenho que tentar.

A felicidade era certa,

Ela podia me encontrar em qualquer lugar.

Mas os minutos bons diminuíam,

E a quantidade não parava de aumentar.

O que me toma é sempre o desespero.

O cansaço sempre está aqui,

Mata-me o corpo, me deixa louco,

Mas eu não consigo dormir.

Meu maior amor... Me desculpe por querer te deixar...

Mas eu tenho que tentar.