quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Uma aldeia escuta desolada
O canto de um pássaro ferido
É o único pássaro da aldeia
E foi o único gato da aldeia
Que o devorou pela metade
O pássaro deixou de cantar
O gato deixou de ronronar
E de esfregar o focinho
E a aldeia preparou para o coitadinho
Um extraordinário funeral
O gato, que também foi convidado,
Seguiu atrás do pequeno caixão de palha
Onde o pássaro morto jazia
Carregado por uma menininha
Que não parava de chorar
Se eu soubesse que isso ia lhe fazer sofrer tanto
Disse-lhe o gato
Eu o teria comido inteirinho
E depois eu lhe diria
Que o vi partir voando
Voando até o fim do mundo
Lá longe, onde é tão longe,
Que de lá nunca se volta
Você sofreria menos
Ficaria tristinha e só lamentaria um pouco.

Não devemos deixar as coisas pela metade.




E, além disso, digo de rastros:
"Capitu um dia notou a diferença [dos sonhos], dizendo que os dela eram mais bonitos que os meus; eu, depois de certa hesitação, disse-lhe que eram como a pessoa que sonhava... Fez-se cor de pitanga." (Dom Casmurro, cap. XII)

2 comentários:

  1. Nossa, você já tinha me mostrado esse texto do gatinho. Eu amo ele!

    ResponderExcluir
  2. Amei o texto do gato! E onde fica Pasárgada? Quero ir pra lá .-.

    ResponderExcluir